Pap'Açorda – Indivíduo apático, sem préstimo ou sem iniciativa?
Depois de um mês de férias e uma cozinha remodelada volto ao trabalho presencial vacinada, cheia de entusiasmo e reticências. Habituei-me depressa ao trabalho a partir de casa. Vou sentir falta das corridas de manhã e do tempo poupado no trânsito. Sou individualista de mais para ter sentido saudades dos colegas, até porque continuei a ver quem interessa online. E almoçar fora todos os dias também não é bom para a dieta por isso, assim de repente, parece que as vantagens do teleworking são superiores às do trabalho presencial. Mas o ser humano é um animal de rotinas. Passado o choque inicial, tudo vai ficar bem.
Num destes dias fui finalmente almoçar ao Pap’Açorda no Mercado
da Ribeira. Raramente vou lá porque acho o sítio muito barulhento: o eco, o
tilintar dos talheres e (também) os preços fazem-me um bocado de confusão.
Percebo que seja giro para os turistas, mas, pessoalmente, acho que não vale a
pena. Como o Pap’Açorda não está na sala principal não se pode exatamente dizer
que faça parte do mercado e, então, lá fui eu toda lampeira.
Em entrando pela entrada principal do mercado é subir
umas escadas à esquerda. A sala é enorme e convidativa, gosto do estilo
industrial; o bar, à noite, deve ser agradável. No entanto, chamar-lhe um restaurante
icónico é um bocadinho exagerado.
Os pastéis de massa tenra de atum estavam absolutamente divinais, acho que o que gostei mais foi do couvert. O meu prato estava ótimo: Polvo grelhado com batatas a murro e grelos, tenrinho, bem-apresentado, um mimo. As migas de broa da beira do Lombinho de porco preto corado com pimentão e migas, também. O Mousse de chocolate era demasiado doce e os morangos demasiado pequenos. A tarte de limão com merengue esteve bem.
O Bife do lombo à Pap’Açorda com batatas fritas e
esparregado foi uma pequena deceção. Porque ostenta o nome do restaurante,
pensámos que seria um prato diferente com um toque único qualquer. Mas não, é
simplesmente um bife mergulhado numa banheira de molho sem grande apresentação.
Acaba por fazer alguma justiça ao nome: se formos ao dicionário Priberam lemos que
um Papa Açorda é um “Indivíduo apático, sem préstimo ou sem iniciativa =
mosca-morta”. Tal e qual aquele bife. Até me ri sozinha.
E depois ainda fomos dar uma volta pela Rua Rosa para ver os chapéus de chuva.
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