Restos do Clube de Leitura 2022
Às vezes, quando perdemos o hábito de fazer uma coisa, como correr ou comer bem, custa tanto recomeçar… Durante um ano inteiro, sempre que ia a um sítio giro, vinha aqui escrever. Além da lista que vou fazendo à medida que leio livros, também gostava de fazer aqui um pequeno resumo, para mais tarde me lembrar do que li. E depois fiquei doente e o hábito perdeu-se.
Mas
um novo ano promete sempre novos começos e embora não tenha saído muito
ultimamente, ler livros é coisa que não consigo deixar de fazer. Ainda bem para
mim. Por isso, aqui ficam umas breves palavras sobre os livros que li desde o
último Clube de Leitura:
Após
a pausa que disse que ia fazer para descansar do Max Bentow li “A Ilha das Árvores
Desaparecidas” da Elif Shafak, uma autora britânica de ascendência
turca que prometia no seu livro contar-nos sobre a paixão proibida de um grego
cristão e uma turca muçulmana durante a guerra civil de Chipre em 1974. Interessou-me
porque sei muito pouco sobre esse período e nunca digo não a histórias de amor.
Mas não gostei nada, achei muito superficial. No entanto, houve uma frase que
me marcou por me identificar com ela: “Nós temos medo da felicidade,
percebem? Desde tenra idade que nos ensinam que no ar, nos ventos etésios, se
dá uma estranha troca, de modo a que cada réstia de satisfação se seguirá uma
réstia de sofrimento, por cada gargalhada haverá uma lágrima pronta a rolar,
pois é assim mesmo que é este mundo estranho, e por isso tentamos não parecer
demasiado felizes, mesmo nos dias em que talvez nos sintamos assim.” (pp.
114-145) É verdade, este meu sentimento provém da pesada herança do catolicismo
que nos ensina a dar a outra face, exalta a modéstia e condena o orgulho. Não
devia ser assim, Deus quer que sejamos felizes!, e aproveitar a vida e as
coisas boas não é um sinal de que sejamos maus ou de que não queiramos o
bem-estar dos outros. Foi bom ter lido este livro só por causa desta frase,
para me lembrar de que ser “bom” é sinónimo de ser feliz. E há que lutar por
isso.
Depois,
como me chateei, voltei ao Max Bentow e li o Rotkäppchens Traum (2019). Entretanto uma
amiga romena recomendou-me ler o “I must betray you” da Ruta Stepetys, e foi
o que fiz, desta vez para conhecer um pouco mais sobre a ditadura comunista
romena de Nicolae Ceaușescu, presidente da Republica Socialista da Roménia de 1974
a 1989, quando a revolução derrubou o regime. Conta a história de um
adolescente que se vê obrigado a tornar-se informador da polícia secreta e
obter informações sobre a família de um diplomata americano para a qual a mãe
trabalhava como senhora da limpeza. Lê-se num fim de semana. A linguagem é
simples e como o protagonista é um adolescente, a história é contada de forma a
ter uma certa graça, à laia do “Diário secreto de Adrian
Mole”
(quem não se lembra do atum descontente??? Ainda hoje me rio!), mas com um
pouco de mais seriedade. Segundo a minha amiga, que viveu na Roménia nessa
altura, o livro é bastante fidedigno.
A
seguir, dois Max Bentow para animar os ânimos: Der Mondscheinmann (2020) e Der Eisjunge (2021). Nunca desilude.
Só me falta o último livro da saga que saiu em 2022, mas que ainda não comprei.
A Desgraça de J. M. Coetzee começa
com um capítulo introdutório à personagem principal delicioso. Ultimamente
tenho andado com vontade de ler autores sul africanos porque os dois livros que
li da Dalene Matthee me impressionaram pela poesia da prosa. A Desgraça não tem
poesia na prosa mas a história até se lê bem, apesar de o final ser um pouco
abrupto. Gostaria de ter lido outro final, um em que o que aconteceu à filha do
protagonista tivesse sido orquestrado pelos pais da aluna que ele molestou,
para que ele pudesse refletir sobre o que aconteceu. Em vez disso, o livro
relata apenas uma série de acontecimentos sem que haja uma análise própria da sua
conduta. Eu percebo que é essa a intenção, que o foco do autor é criticar a
sociedade e não o indivíduo, mas mesmo assim, gostaria de ter lido outro final.
O autor é um Prémio Nobel e o livro ganhou o prémio Booker, só pode ser bom,
não me interpretem mal...
Para
finalizar o ano, comecei a ler a Eliete da Dulce Maria
Cardoso, o qual só terminei no início de 2023. Já tinha lido o Retorno, mas
este é melhor. É uma história de autoconhecimento e de transformação, mas
também de acasos e desventuras, com uma pitada de muito humor. Gostei bastante
e mal posso esperar por sair a segunda parte da história porque preciso de
encerrar o ciclo (need closure!!!). Até perguntei à autora para quando estaria
a segunda parte e ela respondeu-me com um coração… Portanto, não sabemos!
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