10 dias no Japão

Fui ao Japão em dezembro de 2018 depois de ter terminado o meu mestrado. Após um esforço tão grande a trabalhar de dia e a estudar à noite, farta de ler artigos e com a cabeça completamente em água, achei que merecia uma prenda especial e o que escolhi para me oferecer foi uma viagem em família ao Japão: Tóquio, Quioto, Nara, Osaka, Kamakura, e de volta a Tóquio.

O Japão é um destino caro, mas com planeamento é possível ir com custos controlados. Planeei a viagem com a ajuda dos sítios “Japan Experience” e “Japan Guide”. Comprei o “Japan RailPass” (JRP) de sete dias, que na minha opinião vale muito a pena porque não só dá para usar no metro nas cidades, desde que a linha faça parte da companhia de transportes nacional JR, como também dá para viajar entre regiões, o que era o nosso objetivo.  Para começar é necessário encontrar o gabinete onde se ativam os bilhetes, ou seja, é preciso trocar a guia que recebemos em casa pelo correio pelo bilhete de facto, e depois é usar como se quer. Estes gabinetes estão assinalados a vermelho aqui. Nunca paguei qualquer outro transporte, usei sempre o JRP, e nunca marquei lugares, simplesmente perguntava aos funcionários nas estações qual era o número da linha para ir a tal sítio com o JRP e depois ia. Tudo muito fácil com os comboios sempre a partirem à hora marcada. Fizemos um seguro de viagem na WorldNomads.

Como toda a gente sabe, o Japão é um país muito organizado. Uma vez, logo ao início, chagámos a uma plataforma deserta e ficámos à espera do metro. Entretanto começaram a chegar outras pessoas que se punham quase em cima de nós. E eu disse ao meu marido que aquilo não era nada japonês zen, com tanto espaço na plataforma e toda a gente em cima de mim. Afastámo-nos. Só passado um bocado é que percebemos que as carruagens param sempre no mesmo sítio, que aliás está marcado no chão, onde as pessoas esperam em fila. Portanto, como saímos do lugar onde estávamos em primeirinho, tivemos de esperar 10 minutos pelo metro seguinte porque não conseguimos embarcar. LOL.

Entre Lisboa e Tóquio são oito horas de diferença e quase um dia de viagem por causa do fuso horário. Passámos o Natal em casa de amigos, que nos levaram aos sítios mais emblemáticos como o bairro de Shibuya com a passadeira mais movimentada do mundo ou ao edifício Rappongi Hills com um miradouro sobre a cidade. Fartámo-nos de passear, mas confesso que não aproveitei muito por causa do Jet Lag. Às sete da tarde dava-me sempre um sono terrível que eu não conseguia controlar. As minhas filhas estavam na boa, mas eu quase morta. E tenho pena porque os meus amigos, um português casado com uma alemã, convidavam outros amigos para jantar, gente interessante com boas histórias para contar e eu só queria dormir. Devo ter sido uma péssima companhia. Aconselho vivamente a descarregar uma app para ajudar o problema.  

Três dias depois lá comecei a sentir-me melhor e foi então que começou a aventura.

As primeiras paragens foram Quioto e Osaka. Apanhámos o Shinkansen, o comboio bala, na linha Tokaido. Em Quioto pernoitámos três noites no MosaicHostel Kyoto. Estava um pouco receosa por ser um hostel, mas foi espetacular. Tudo sempre tão limpinho, o staff simpático e, sobretudo, relativamente perto da estação central, o que foi conveniente para nós.

Na primeira tarde fomos logo visitar o bairro Gion. De caminho passámos por várias ruas que são autênticos mercados de lembranças e onde encontrei os produtos com maior qualidade em toda a viagem. Quase comprei um Kimono numa loja de segunda mão na parte moderna, mas depois achei que seria um capricho idiota.

No dia seguinte partimos para a estação de Arashiyama e começámos por visitar o bosque de bambus, que eu achei que era uma coisa linda e super zen. E era, segundo a foto no meu Instagram. No entanto, a realidade era esta:

Mas valeu a pena. Foi o primeiro sítio em que encontrámos uma geisha verdadeira, porque as que tínhamos visto até então no bairro Gion eram na maior parte turistas que alugavam kimonos por um dia e se passeavam nas ruas! (Não deixa de ser um negócio interessante) Almoçámos no caminho para o parque dos macacos, passando pela ponte Togetsukyo. Demorámos uma hora a subir a montanha a pé até ao topo, mas as miúdas gostaram imenso de ver os macaquinhos a andar por ali perto de nós.  Foi um dia cansativo que acabou em beleza com a visita ao Pavilhão Dourado Kinkakuji. Estas sim, foram duas horas de espírito zen, apesar dos turistas. O parque é lindo e o pavilhão imponente.

Na manhã seguinte começámos por visitar o templo Fushimi Inari Taisha, que deve ser o templo mais fotografado do Japão por causa dos sucessivos portões cor de laranja. De facto, tiram-se fotografias lindas. Os corredores formados pelos portões estendem-se desde o sopé da montanha até ao topo ao longo de mais de 200m criando um efeito túnel. Dica: não é preciso tirar fotos logo ao início juntamente com as enchentes de turistas porque existem vários caminhos para se chegar ao topo, por isso as pessoas acabam por se dispersar e mais para a frente encontram-se sempre corredores mais vazios. No entanto, à medida que se sobe, os portões vão ficando mais escassos. 

De tarde seguimos para Osaka. Como a manhã foi muito extenuante só fizemos duas paragens em Osaka: uma para ver o castelo, mas nem entrámos, vimos só de fora, e a outra, na Namba street.

Na última noite em Quioto jantámos outra vez em Gion e de manhã rumámos a Nara onde ficámos uma noite no ConfortHotel Nara, mesmo ao lado da estação central. Como o nome indica é um hotel confortável, contudo simples e pouco característico. O pequeno-almoço internacional era variado e esteve tudo bem, não precisámos de mais nada. Devo dizer que Nara foi o sítio de que mais gostei. A atração principal é o parque dos cervos, um complexo gigante com centenas de cervos que vêm comer às nossas mãos bolachas compradas aos vários vendedores de bolachas para cervo espalhados pelo parque. Digam lá, há coisa mais fofa do que ser perseguido por estas criaturas amorosas?

Houve vezes em que fomos literalmente assaltados pelos cervos maiores que nos rodeavam tentando roubar as bolachas de dentro dos nossos bolsos. E até houve um doido que me viu com um mapa na mão e, aparecendo do nada, me roubou o mapa e o devorou em três segundos ali à nossa frente. Pois é, não devia ter andado com o mapa no mesmo bolso das bolachas… O complexo também alberga o templo Tōdai-ji com uma das maiores estátuas de Buddha em bronze. Gostei mesmo muito deste dia.

De Nara fomos ao encontro de outra estátua deslumbrante de Buddha em bronze, em Kamakura, no templo Kotokuin (primeira foto). Kamakura é uma estância balnear japonesa e foi lá que toquei pela primeira vez nas águas do Oceano Pacífico. Apesar de ser inverno e estar frio, para mim não há nada mais relaxante do que uma praia.  

À noite voltámos para Tóquio, onde passámos o fim do ano com os nossos amigos e no dia 2 de janeiro regressámos a Lisboa. Quero muito voltar, 10 dias no Japão não dá para nada. 

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